De janeiro a setembro deste ano, as exportações do
setor agropecuário cearense somaram US$ 266,8 milhões, o que representou
uma queda de 14,6% na comparação com igual período de 2019. Apesar da
retração, o setor superou o desempenho geral do Estado, que apresentou
uma queda de 17,3% nas exportações. Segundo especialistas, a pandemia do
coronavírus é a principal razão para a queda, já que muitos países
reduziram as compras externas no primeiro semestre deste ano.
Entre os principais produtos da pauta do agronegócio, o destaque
positivo ficou para as frutas, que apresentaram um incremento de 68,8%
das vendas ao exterior, com um valor de US$ 42,3 milhões no período. Por
outro lado, a castanha-de-caju, principal item do setor, apresentou
queda de 6,7%, com o envio de US$ 68,9 milhões. Já a cera de carnaúba,
que em 2019 foi o segundo principal produto da pauta de exportação do
agronegócio, sofreu uma retração de 36,1% de janeiro a setembro de 2020,
com o envio de US$ 36,4 milhões, passando para a terceira posição.
Com a queda das exportações neste ano, a participação dos principais
produtos do agronegócio cearense na pauta de exportação do Estado caiu
de 17,3%, em 2019, para 16,8% neste ano. "A produção de castanha vem
caindo muito nos últimos anos, com queda da produtividade, o que se
reflete nas exportações. Também tivemos queda nas exportações de água de
coco. E as exportações de pescado sofreram com a pandemia, porque houve
uma paralisação da atividade, além de uma queda na demanda", disse Maia
Júnior, secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado do
Ceará.
Até setembro, as exportações de lagosta caíram 24,8%, as de peixe,
20,7%, e a de conserva de peixe recuaram 40,6%. A venda desses três
produtos somaram US$ 46,1 milhões, o que representa 17,2% das
exportações do agronegócio cearense. Por outro lado, o Ceará registrou
expressiva alta nas vendas de mel de abelha (35,6%), hortaliças (100,4%)
e flores e produtos para floricultura (15,1%), nos valores de US$ 5,4
milhões, US$ 2,1 milhões, e US$ 90,6 mil, respectivamente.
Queda expressiva
De acordo com a gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN), da
Federação das Indústrias (Fiec), Karina Frota, a pandemia do novo
coronavírus contribuiu para que os registros de exportações do Ceará
apresentassem uma queda expressiva. Entretanto, ela chama a atenção para
o fato de que alguns segmentos do setor agropecuário tiveram incremento
nas vendas, mesmo durante a crise sanitária, com destaque para as
frutas e os pescados, o que fez a queda ser menos acentuada.
Segundo a gerente do CIN, os números de exportações das frutas, notados
entre janeiro e setembro deste ano foram motivados, principalmente,
porque as pessoas passaram a "valorizar cada vez mais o agronegócio".
Ela ponderou que, como as pessoas estavam preocupadas com o
desabastecimento de alimentos, mesmo durante a crise, alguns segmentos
tiveram alta e isso está puxando a recuperação do setor. "Apesar da
diferença, por causa do momento em que estamos passando, o setor já
apresenta uma discreta recuperação", avalia.
Safra
Karina Frota afirma que, com o passar dos meses, por causa da retomada
econômica em alguns setores, os dados referentes a setembro são melhores
que os dos meses anteriores, quando, conforme a gerente do CIN, os
exportadores enfrentaram uma "realidade bem difícil". Para ela, a
tendência é que o segundo semestre seja melhor não só por causa da
retomada, mas também porque é a época de safra, o que faz com que as
exportações, tradicionalmente, sejam melhores.
"Em momentos críticos, nós tivemos cancelamentos de pedidos, problemas
logísticos, diminuição consistente nas rotas aéreas, além da limitação
de contêineres, o que contribuiu para a retração. A parte marítima
melhorou bastante, mas a aérea, não, porque não podemos contar com a
nossa rota de voos internacionais. Apesar de o modal aéreo representar
5%, notamos um impacto negativo maior, sim", pontua Karina Frota.
Na visão do economista e consultor internacional, Alcântara Macêdo,
embora a pandemia tenha acarretado a desativação das vendas de produtos
ao exterior, a tendência é que nos próximos 90 dias, os números devam
crescer, já que há uma "demanda reprimida" de vários países. "A
matéria-prima encontrada aqui serve para produção de vários produtos, no
Brasil e no exterior. É de se esperar que venham buscar os produtos nos
próximos meses, e que a situação tende a ficar melhor".
Paridade cambial
Quanto à paridade cambial entre o real e o dólar, explica o consultor
internacional, a valorização da moeda norte-americana frente à
brasileira contribui para quem exporta produtos, fazendo com que se
tenha uma maior possibilidade de lucro. Caso o fato não tivesse
ocorrido, de acordo com ele, alguns produtos do estado do Ceará não
seriam tão comprados. "Houve uma desativação das transações por causa da
pandemia. Não é que os nossos produtos não foram aceitos lá fora. A
crise para a produção nas fábricas impactou negativamente a compra dos
produtos".
O consultor internacional diz ser evidente que a pandemia trará
consequências, como desemprego, queda na arrecadação tributária e
aumento das dívidas públicas, o que implica em taxas de juros altas, o
que, para ele, requer atenção. "Se não for a politicagem, as ideologias e
os políticos, nós sairemos menos 'arranhados' dessa conjuntura que
outros países, já que temos uma reserva cambial grande e demanda para
produtos internacionais", diz.
Alcântara Macêdo pontua ainda que, fora o setor do agronegócio, outros
tendem a contribuir para que os números de exportações aumentem nos
próximos meses, como o da construção civil, que necessita bastante de
aço, o que dará um impulso na demanda. "Temos um superávit na balança
comercial brasileira de quase US$ 50 bilhões, de janeiro a setembro. É
claro que se não houvesse a pandemia os números melhores".
Fonte: Diário do Nordeste
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